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Património Cultural
Património Mundial

Cidade Velha

Descrição

A Cidade Velha, nascida como cidade da Ribeira Grande, foi fundada em 1462, dois anos após a chegada dos navegadores portugueses à ilha de Santiago, a primeira das ilhas do arquipélago de Cabo Verde a ser descoberta.
Sendo também ela a primeira cidade fundada por europeus a sul do Saara, e a primeira capital de Cabo Verde, foi ainda sede da primeira diocese da Costa Ocidental Africana, solicitada por D. João III ao papa Clemente VII, em 1532, e instituída pela bula Pro Excellenti no ano seguinte.
A localização do arquipélago revelou-se de um grande valor estratégico, como insubstituível ponto de apoio nas rotas marítimas para as américas e para o sul de África, permitindo o abastecimento de água e de frescos, e a possibilidade de se efectuarem reparações navais.
Serviu também como precioso laboratório onde se criavam e testavam espécies agrícolas e animais, europeias e africanas, que foram intoduzidas no continente americano, e outras oriundas deste, que transitaram para a África e a Europa.
A situação da cidade, por seu lado, deveu-se a condições naturais mais propícias à fixação humana.
Na sua parte mais inóspita, em que a ilha se configura numa plataforma que chega ao mar a uma altura de 100 metros, abre-se um vale muito profundo e escarpado, de grande beleza paisagística, onde corria praticamente todo o ano uma ribeira, chamada ribeira grande, acompanhada de luxuriante vegetação.
A abundância de água e as facilidades para a agricultura foram determinantes para a escolha deste sítio como centro do povoamento.
É pois na foz desta ribeira que se vem a localizar a Cidade Velha, e a distribuição dos seus edifícios tirou inteligente partido do terreno acidentado, organizando-se a povoação em anfiteatro virado ao mar.
O conjunto é coroado pela Fortaleza de S. Filipe, que se isola da cidade situando-se a 100 metros de altura, cuja construção, em 1587, foi decidida em resultado dos ataques à cidade de 1578 e 1585, de Sir Francis Drake, o célebre corsário inglês.
Constituía esta fortificação a cabeça do sistema defensivo da cidade, tendo ao centro o forte do Presídio, sobranceiro à praia, de que hoje existem só as fundações, a nascente os fortes de Santo António, com vestígios, de S. João dos Cavaleiros, destruído, e de S. Veríssimo, do qual existem as duas baterias, e a poente o forte de S. Brás, com vestígios, e o desaparecido forte de S. Lourenço.
O período de grande esplendor da cidade vai de meados do séc. XV aos finais do séc. XVI, ainda com alguma importância no começo do séc. XVII, e deveu-se sobretudo ao tráfico de escravos.
Por meados do séc. XVI a cidade compunha-se de cerca de 500 edifícios de pedra e cal, e dispunha de um extenso conjunto de edifícios religiosos: a Igreja de N.ª Sr.ª do Rosário, a única que se manteve e que continua aberta ao culto, apresentando uma pequena capela gótica, com motivos da gramática manuelina, a igreja de S. Roque, hoje edifício descaracterizado, e as desaparecidas igrejas de S. Pedro, Monte Alverne e N.ª Sr.ª da Conceição, e ainda a ermida de St.ª Luzia. Também desaparecidos, à excepção de parte da torre sineira, localizavam-se na parte baixa a igreja e o hospital da Misericórdia, e um pouco mais para o interior ficava o hospício e as casas da Companhia de Jesus.
Por meados do séc. XVII foi fundado, a meia encosta, o convento de S. Francisco, de entre cujas ruínas sobressai, restaurada, a respectiva igreja.
A fortaleza compreendia, por seu lado, a capelinha de S. Gonçalo, e ao lado da Sé encontrava-se o Paço Episcopal.
Mas é a Sé Catedral que verdadeiramente se impunha no conjunto, até pela sua inesperada dimensão. Situada no bairro de S. Sebastião, a 25 metros acima do mar, debruçava-se sobre a cidade e dominava-a com a sua forte presença.
A sua construção inicia-se em 1556, por iniciativa de D. Frei Francisco da Cruz, terceiro bispo de Cabo Verde, mas é interrompida quando as paredes vão a meia altura, e só mais de um século depois, com o bispo D. Frei Vitoriano Portuense, os trabalhos recomeçaram e terminam cerca de 1700, todavia já em fase de nítida perda de importância da cidade da Ribeira Grande.
Na realidade, as melhores condições do porto da cidade da Praia de St.ª Maria, distante 12 km, aliadas à insalubridade da Cidade Velha, cujas febres eram temidas, e se deviam sobretudo à presença de águas estagnadas na ponta final da ribeira, levaram a uma cada vez maior perda da sua importância ao longo do séc. XVII, entrando no século seguinte já bastante arruinada.
Por outro lado, o sistema defensivo, dirigido a quem atacasse por mar, nunca foi suficientemente guarnecido em homens e peças de fogo, e não era particularmente eficaz a quem desembarcasse noutro ponto da ilha e atacasse por terra, o que se verificou em vários ataques que a cidade sofreu, em especial o mais destruidor de todos, ocorrido em 1712, sob o comando do francês Jacques Cassard.
Com cada vez menos importância económica, perdeu o estatuto de capital, em 1769 a favor da cidade da Praia. Daqui em diante, agora também perdida a importância administrativa, vai ser progressivamente abandonada, entrando em ruína os estabelecimentos militares e religiosos ao longo do século XIX, chegando boa parte deles a colapsar no século seguinte (com excepção da igreja de Nossa Senhora do Rosário), enquanto os edifícios civis desaparecem por completo.
O sítio é entretanto reocupado por populações vindas do interior da ilha. Nascia assim a Cidade Velha, com a construção, sobre as fundações dos desaparecidos edifícios, de habitações simples, em alvenaria de pedra e cobertura em folhas de coqueiro, com farta utilização de cantarias recolhidas nos escombros dos monumentos.