Património Mundial
Centro Histórico de Macau
Descrição
O território de Macau localiza-se a sul da China, no delta do rio Cantão.
Portugal foi a primeira nação ocidental a estabelecer colónias e postos comerciais no Extremo Oriente. Iniciada a rota comercial do Japão em 1543, o reino português recorria ao porto de Macau para escala das suas embarcações, acabando por aí estabelecer o primeiro entreposto comercial europeu na China.
Sendo este um local de encontro de mercadores mas também de salteadores e piratas, e não conseguindo os oficiais chineses controlar a situação, prometeram aos portugueses conceder-lhes o privilégio de aí se estabelecerem caso conseguissem afastar a ameaça.
Em 1553, o Capitão-mor da viagem do Japão, Leonel de Sousa, fazendo escala no porto de “Amacao”, obteve autorização das autoridades chinesas para legalizar a feitoria, o que permitiu concentrar naquele local os portugueses estacionados nos restantes entrepostos da região. Rapidamente a feitoria de Amacao deu lugar à cidade de Santo Nome de Deus na China, dotada de estatutos próprios em 1586.
Foi neste período que o modelo urbano se delineou com a construção de igrejas e edifícios civis. Á parte destes, tornava-se também necessária a construção de estruturas defensivas, apesar da relutância chinesa que receava que Macau pudesse ser utilizada como base para a penetração dos portugueses no continente.
A cidade portuguesa foi construída a partir do porto interior e cresceu entre a Praia Pequena e a Praia Grande, o Monte e a Penha. Com o objectivo de defender a cidade dos insistentes ataques holandeses, em 1623 ficou concluída a muralha que veio substituir a primitiva cerca de madeira. Foi ao longo desta muralha que se implantaram as principais fortalezas, fortes e portas de terra e mar, apoiados por alguns fortins exteriores.
Internamente, a estrutura urbana seiscentista desenvolveu-se respeitando o modelo de cidade portuguesa, onde os edifícios públicos, religiosos, comerciais e administrativos constituíram os núcleos da vida urbana.
Da presença portuguesa em Macau, subsistem em essência duas tipologias construtivas: a militar e a religiosa.
A Fortaleza de S. Paulo do Monte está localizada no centro da península de Macau, na colina de S. Paulo do Monte, que tem uma altitude de cinquenta e dois metros. A sua posição estratégica no terreno justificou o estabelecimento dos primeiros portugueses no local. Esta fortaleza pode ser considerada como o eixo da linha de defesa, pois a cinta de muralhas que a ligavam ao Baluarte de S. João e ao Fortim de S. Januário faziam dela a principal praça de defesa contra a ameaça vinda do Norte. Do mesmo modo, proporcionava um extenso arco de fogo ao cobrir os litorais Este, Oeste e Sul.
A Fortaleza de S. Tiago da Barra está situada na ponta sul da península de Macau, à margem da colina da Barra do porto interior, constituindo assim um importante elemento para a defesa deste último.
A Fortaleza de Nossa Senhora do Bom Parto, em simultâneo com a Fortaleza de S. Tiago da Barra, protegia o acesso ao porto interior, mas estando localizada na colina da Penha, era utilizada também para fornecer fogo de cobertura ao porto exterior, conjuntamente com a Fortaleza de S. Francisco e o Fortim de S. Pedro.
A Fortaleza de S. Francisco, localizada na base da colina onde hoje se situa o Hospital de S. Januário, era a primeira linha de defesa contra qualquer frota vinda do mar.
A Fortaleza de Nossa Senhora da Guia, situada na colina com o mesmo nome, e colocada fora das muralhas defensivas da cidade, foi edificada como defesa contra a ameaça do continente chinês.
A Fortaleza da Taipa, localizada na Ilha da Taipa, foi edificada a pedido da população ao Governador de Macau.
O Forte da Nossa Senhora da Penha de França, situado no cimo da colina com o mesmo nome, defendia ao largo contra as invasões navais, mas a sua localização estratégica permitia que as suas armas fossem apontadas de modo a formar um arco completo sobre toda a cidade.
À parte desta estrutura defensiva magna, existiam ainda edifícios militares de menores dimensões como o Forte do Patane, o Forte da Lapa, o Forte de Mong-Ha, o Forte de D. Maria II, o Forte da Ilha Verde e o Fortim de S. Pedro.
Dos edifícios religiosos do centro histórico de Macau, destacam-se a Igreja da Madre de Deus, vulgo S. Paulo, a Igreja de S. Domingos, a Igreja da Sé, a Igreja de Santo Agostinho, a Igreja de S. Lourenço, a Igreja do Seminário de S. José, a Igreja de S. Lázaro, a Igreja de Santo António, a Igreja de S. Francisco Xavier e as diversas ermidas inseridas no perímetro das fortalezas.
A Igreja da Madre de Deus foi fundada em 1563 por dois padres jesuítas: Francisco Perez e Manuel Teixeira. Em 1565, anexo à Igreja da Madre de Deus, criaram o Colégio de S. Paulo, primeira instituição universitária da Ásia. Após um grande incêndio apenas a fachada subsistiu. É tradição atribuir o desenho da fachada desta igreja ao jesuíta genovês Carlo Spínola.
A Igreja de S. Domingos, fundada por frades dominicanos de Acapulco em meados do século XVI, é hoje o único vestígio da passagem destes frades pela província de Macau.
Embora não seja conhecida a exacta data da sua construção, já por meados do século XVI, havia referência à Igreja da Sé. Na construção actual, subsistem as características neo-clássicas, desenvolvendo-se a fachada principal em dois pisos.
A primitiva Igreja de Santo Agostinho foi fundada por frades espanhóis agostinhos, em 1586. Três anos depois, passou a ser pertença dos frades portugueses que, em 1591, ergueram um templo de feição classicizante.
A Igreja de S. Lourenço, cuja fundação jesuítica remonta ao estabelecimento português em Macau, foi várias vezes reconstruída.
A Igreja do Seminário de S. José constitui o segundo edifício de iniciativa jesuíta destinado à educação. Após a extinção da Companhia de Jesus, o Seminário foi entregue por D. Maria I aos padres lazaristas que, de 1784 a 1856, conferiram ao Colégio o seu anterior prestígio.
A Igreja de S. Lázaro foi a primeira igreja construída pelos portugueses na cidade de Macau. Na comunidade macaense é uma das que tem maior significado pois funcionou como leprosaria. Sofreu ao longo dos séculos algumas remodelações e em 1885, demolida a ermida quinhentista, uma nova igreja foi construída.
Segundo a tradição, a Igreja de Santo António é coeva à chegada dos portugueses a Macau, embora a primeira construção em pedra date de 1638. Sofreu várias reconstruções em consequência de inúmeros incêndios.
Seguindo ainda os relatos tradicionais, Luís Vaz de Camões terá permanecido em Macau entre 1557 e 1559, período durante o qual, na designada “Gruta de Camões”, se terá inspirado para escrever excertos da sua famosa obra Os Lusíadas.
Outras ligações:
UNESCO - Historic Centre of Macao
Bibliografia
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