Definido dentro de uma matriz racional e moderna, o complexo industrial da UNICER – União Cervejeira, E.P. (anterior CUFP – Companhia União Fabril Portuense), instalado na proximidade do Mosteiro de Leça do Bailio, não se limitou a confiar o seu carácter aos valores produtivos e funcionais da indústria, retirando da natureza do programa uma infinidade de estímulos susceptíveis de transfiguração plástica.
Tratava-se, antes de mais, de propor uma concepção dinâmica da nova unidade fabril, articulando as necessidades impostas pela cadeia funcional da actividade produtiva — da descarga do milho e malte, até às linhas de enchimento — em função do trajecto de um circuito de visitas, bem como das premissas de visibilidade, funcionalidade, higiene e capacidade de crescimento, desde logo, equacionadas por João Talone, engenheiro e administrador da empresa. Á sua experiência, adquirida na edificação das fábricas em Nova Lisboa e Angola, associou-se a modernidade do arquitecto Arménio Losa que — na continuidade do trabalho desenvolvido para remodelação e ampliação das antigas instalações fabris, situadas na R. Júlio Dinis no Porto — integrou o corpo técnico do gabinete formado com o propósito exclusivo deste projecto e dirigido pelo Engº Guedes Coelho.
Este novo espaço regista, no seu conjunto, uma complexa maleabilidade formal entre as diferentes unidades — fabril, oficinal, administrativa e social —, cuja silhueta geral é definida pelo corpo fechado dos silos de milho e malte, construído em betão, ao qual se anexa significativamente o volume translúcido da sala de fabrico, que exibe a forma e cor das cubas de fermentação em cobre. Este volume é conscientemente integrado na extensa fachada de 400m, disposta paralelamente ao eixo da Via Norte, funcionando como uma ampla vitrine que promove a imagem da empresa e lhe confere visibilidade.
Dá-se, neste equipamento, a circunstância exacta em que a arquitectura pôde acontecer como fenómeno de mediatização, mas, sobretudo, como fenómeno de renovação ao nível dos códigos linguísticos da arquitectura, tendo sido divulgado na publicação que a ODAM (Organização dos Arquitectos Modernos, 1947-1951) editou em 1971, como exemplo qualificado de um programa industrial moderno.