A arquitectura nos anos 50, veio consubstanciar as aspirações de um país cuja contemporaneidade absorvia, de forma ainda imprecisa, os mitos de progresso e modernidade, há muito enunciados no estrangeiro e assimilados pelos jovens arquitectos que, desde o Iº Congresso Nacional de Arquitectura, em 1948, vinham proclamando uma aderência convicta aos valores internacionais. Procurava-se, então, que a arquitectura atendesse às expressões do quotidiano, face à certeza que havia, necessariamente, de se «deixar a porta aberta para um novo conjunto de problemas, aliás muito complexos, que decorr(iam) do impacto da industrialização e dever(iam) ser solucionados pela nova geração de arquitectos»1, como se podia ler, em 1958, na moderna revista Binário, que, neste mesmo ano, exibia na sua capa um vigoroso plano da fábrica de papel químico Kores.
A modernidade, desde logo convocada pelo edifício, expressa-se, particularmente, pelo seu tratamento formalista, onde o volume superior destinado à área administrativa, mais saliente e expressivo, se articula habilmente com a zona de fabrico, que ocupa o primeiro piso em toda a extensão do lote, sendo coberta por um sistema em shed. Mas, também, na larga pala de protecção solar que corre a fachada, na atenção ao cruzamento dos planos e materiais — particularmente criativa na forma de remate dos panos de vidro com a cobertura, deixados sem caixilho —, ou no modo de exploração da cor, que, para além da distinção funcional ao nível dos pavimentos — cinzento azulado na zona relativa à área fabril, passando a azul escuro na secção das tintas —, desempenha um papel essencial na valorização do conjunto, recordando, de alguma forma, o potencial das propostas neoplasticistas. A entrada do edifício é marcada com uma bem desenhada pala, em “V”, que se conjuga plasticamente com a exploração gráfica do lettering da KORES, sobre a grelhagem vermelha que acompanha o vão de escadas. Esta obra insere-se nas opções já definidas por estes profissionais para a fábrica Martini & Rossi (hoje muito alterada), projectada um ano antes, na mesma zona de Lisboa oriental, mas, sobretudo, para os espaços comerciais que marcaram o gosto da cidade, com um notável trabalho de apurado sentido gráfico.