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Património Cultural
Património Industrial - Arquitectura Industrial Moderna (1925-1965)

Casa da Moeda e Valores Selados

Designação

Casa da Moeda e Valores Selados

Localização

Avenida António José de Almeida, Avenida João Crisóstomo, Avenida Defensores de Chaves, Rua D. Filipa de Vilhena

Freguesia / Concelho / Distrito

Nossa Senhora de Fátima / Lisboa / Lisboa

Função

Indústria Monetária e de Valores Selados: edifícios industriais-administrativo-sociais

Época

Projecto entre 1933-41

  • Casa da moeda. Entrada da administração / Foto: DE/IPPAR

  • Fachada Norte. Edifício da administração / Foto: Deolinda Folgado

Caracterização

Autores: Arqtº Jorge Segurado e Engºs Espregueira Mendes (edifício da administração) e Adolfo Queiroz de Sousa (edifício das oficinas de talhe doce)

Colaboradores: Escultor Francisco Franco e Pintor Henrique Franco

A leitura de uma das mais singulares obras do primeiro modernismo, a casa da Moeda, é reveladora da evolução da década de 30 e das situações levantadas no decorrer da obra pela procura de um racionalismo construtivo e de um funcionalismo programático. Trata-se de uma construção singular a vários níveis: pelo programa misto que integra o edifício da administração com desejado carácter de representação e o corpo de oficinas que programaticamente se aproxima do carácter utilitário; pelo empenho construtivo que uma obra desta importância reclamou; finalmente pelo facto de revelar pioneiramente uma abordagem inovadora que se afastava do quadro ortodoxo definido pelo Movimento Moderno de estilo internacional, assim se aproximando das experiências holandesas desenvolvidas em contextos não radicais e menos divulgadas no nosso país.

  • Entrada da área fabril / Foto: Deolinda Folgado

  • Passarelas de ligação entre o edifício de administração e as oficinas / Foto: Deolinda Folgado

O conjunto edificado redesenha a forma rectangular do quarteirão aberto no interior formando um extenso pátio. O edifício da administração forma o topo norte ligando-se aos três corpos em U das oficinas através de dois corpos de passagem elevados sobre pilotis. A cobertura em terraço que remata todo o conjunto é ocasionalmente substituída em certas zonas fabris por uma cobertura em "shed" permitindo a entrada directa da luz norte, mas também por áreas de terraço preenchidas pelo tijolo de vidro cilíndrico, de utilização tão comum nas obras modernistas dos anos 30.

A obra do edifício da Administração estaria praticamente concluída em Setembro de 1936 quando surge a polémica a propósito do topo poente do edifício e da sua linguagem moderna. A Secção de Belas Artes da Junta Nacional de Educação pretendia que fosse realizado um "projecto de embelezamento do alçado poente". Ao que o autor contrapôs, reivindicando o "paradigma racional e na necessidade de o edifício responder à funcionalidade interior".

Em Agosto de 1937 é lançada a concurso a 3ª e última empreitada destinada à construção do edifício das oficinas. Também a leitura deste processo coloca questões úteis ao entendimento da expressão modernizante que empenhadamente os arquitectos propunham e difundiam. E o parecer que o Conselho Central de Obras Públicas pronuncia em Dezembro de 1938 é bem esclarecedor desta situação, admitindo à partida tratar-se de um estabelecimento de carácter industrial, e que por isso “as razões de ordem prática devem naturalmente sobrelevar a tudo mais”. Admitindo-se então que “os grandes panos de parede, a proporção larga das janelas, a lisura da composição - são tudo feições adequadas aos edifícios fabris”.

Marcação de um paradigma de qualidade na construção, revela o amadurecimento do austero expressionismo do seu autor na articulação sábia dos vários volumes que formam o quarteirão, assumidos com presença e funções diferentes e onde se destacam as duas entradas: monumentalizante no edifício da administração e, articulada com outra liberdade, a entrada reentrante do corpo de esquina das oficinas jogando com o relógio, o baixo-relevo, e o revestimento texturado dos tijolos esmaltados de verde dos panos entre pilares.


Ana Tostões/ Docomomo Ibérico
Agosto 2002


Classificação

Em vias de classificação

Despacho de 2004.08.27 (EM VIAS desde 2004.09.23)