CSão propostas de grande amplitude técnica que se retiram directamente de uma funcionalidade inequívoca, às quais se acrescenta o magnífico complexo Triton, surgido de um acordo com a Força Aérea Alemã, para a reparação dos motores de turbina a jacto J79-Starfighter F104 e Roll’s Royce TYNE – Transall. Projectado no início dos anos 60, pelo gabinete alemão Aeroplaning GmbH, com a colaboração de empresas portuguesas como a SOREFAME e SOMEC, esta estrutura é composta por sete edifícios de grande clareza volumétrica, que se agrupam por três unidades funcionalmente distintas.
Assim, na primeira unidade — da Divisão de Motores —, o edifício administrativo exibe, como único elemento “plástico”, uma grelha laminar em fibrocimento que corre a longa fachada de 90m, apenas interrompida para dar lugar às duas entradas do edifício. No terceiro piso, uma central de climatização serve não apenas o seu interior, como, também, as 5 naves (com 14m de vão e 145m de comprimento) do hangar central de montagem, que se anexam perpendicularmente. As particularidades técnicas deste hangar, que exigem rigorosas condições de climatização — isento de poeiras e inteiramente climatizado —, resultou na concepção de uma cobertura muito peculiar em forma de lentilha, que abre uma caixa de ar entre duas parábolas, dispostas longitudinalmente em cada nave, bem como na total ausência de janelas nas paredes, executadas com mesmos módulos (3,50x0,625x0,10m) pré-fabricados de betão — protegidos com uma pintura à base de resinas sintéticas e preenchidos com borracha nas juntas —, que cobrem as superfícies dos restantes edifícios do complexo. Exteriormente o conjunto funciona como uma massa volumétrica, térrea e longilínea, cuja depuração é reforçada pelo ondulado das coberturas em arco, recordando, de alguma forma, as recentes propostas do minimalismo.
Este sentido de redução e síntese, prolonga-se pelos restantes corpos, sendo de assinalar a configuração do edifício para ensaio, montagem e preparação de aparelhos, do segundo núcleo — Acessórios de Motor — concebido por forma a responder ao perigo de explosão durante os ensaios de turbina. Os paramentos exteriores do edifício, compartimentado por secções modulares — separadas por paredes em betão armado de alta resistência com uma espessura de 50 cm —, são forrados por placas metálicas de forma a saltarem em caso de pressão interior. Da mesma forma, a cobertura plana inflecte para cima nos extremos.
A terceira das unidades Triton, preparada exclusivamente para o ensaio das turbinas a jacto dos motores “J 79” e “R.R. TYNE”, é protagonizada pela vigorosa volumetria do banco de ensaios, estruturalmente separado de todo o edifício (com fundações independentes), que retira da sua orgânica funcional a máxima expressividade, pela cobertura em rampa que permite a saída do ar na vertical.
Acompanhados de um rigoroso domínio das tecnologias da construção, estes equipamentos, que se justificam na esfera do “útil”, não se contentam porém com a mera função prática da arquitectura, retirando desse seu lado esquemático a tradução de um estado de contemporaneidade e a expressão de uma modernidade, cujo valor foi assinalado na revista Arquitectura, logo após a sua concretização.