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Património Cultural

Legislation 12/14/2023

3 novas manifestações inscritas no Património Cultural Imaterial

Foram publicados no Diário da República n.º 240/2023, Série II de 2023-12-14, os seguintes anúncios relativos à inscrição de três novas manifestações no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial.

Anúncio n.º 252/2023 
Inscrição da manifestação «Canto a Vozes de Mulheres» no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial

Embora desconhecendo-se a sua origem temporal, esta é uma manifestação cultural que dá voz a mulheres em diferentes localidades rurais do centro e norte de Portugal há sucessivas gerações. Também se encontra em outras zonas do país, representada por grupos que de alguma forma tiveram, ao longo da sua história, contacto com essas práticas.
Atualmente são as mulheres que, em grupos exclusivamente femininos ou mistos, cantam as vozes que formam a polifonia vocal, sendo por isso as principais detentoras do conhecimento diferenciador desta prática.
Por tradição aprendiam a cantar a ouvir, observando, imitando e seguindo os conselhos das cantadeiras mais experientes, num contexto de transmissão que ocorria sobretudo durante o trabalho coletivo ou doméstico.
Hoje, esse contexto é substituído essencialmente por momentos de preparação ou ensaio, apesar da transmissão ser feita oralmente, através da escuta e da reprodução dos cantares.
Nas comunidades onde o canto a vozes de mulheres se pratica e faz ouvir, a presença ocorre sobretudo em festas e rituais locais, assinalando momentos de celebração de 2 cariz religioso, mas também em acontecimentos profanos de âmbito cultural com significado para as populações.


Anúncio n.º 251/2023
Inscrição da «Produção de Vinho de Talha» no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial

Este tipo de produção do vinho, próprio do Alentejo, caracteriza-se por um processo de vinificação natural que remonta à época romana, em que as uvas, depois de esmagadas com recurso a um moinho ou uma mesa de ripanço, transformam-se no mosto que se deposita em talhas de barro para fermentação e cozedura por um período aproximado de 40 dias, até o vinho ficar pronto a ser bebido.
Um processo que é sobretudo levado a cabo pelos homens e que tem resistido com base na transmissão oral, num saber-fazer experimentado, na partilha do conhecimento de geração em geração, em respeito por tradições antigas.
Esta transmissão e saber-fazer têm permitido a preservação das adegas de construção tradicional, das talhas de barro, dos recipientes e utensílios, assim como, dos processos culturais que, atualmente, se constituem como património cultural e identitário daquelas comunidades.
Uma prática de vinificação que, de acordo com dados de 2018-2019, se mantém ativa nos concelhos de Aljustrel, Beja, Campo Maior, Cuba, Elvas, Estremoz, Marvão, Mora, Moura, Serpa e Vidigueira, e 134 produtores identificados.


Anúncio n.º 249/2023
Inscrição da «Vezeira de Vilar da Veiga» no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial

A Vezeira da freguesia de Vilar da Veiga, no concelho de Terras de Bouro, no Gerês, é uma prática comunitária centenária que permite que criadores de gado bovino se entreajudem nas despesas e na tarefa de levar o gado a pastar em transumância na Serra do Gerês, em regime de rotatividade, durante os meses quentes da primavera e verão.
Regulada pela Sociedade de Socorro Pecuário da Freguesia de Vilar da Veiga, sociedade civil constituída em 1802 pelos criadores de gado locais, esta prática nasce de uma estratégia de entreajuda para a maximização de meios e de recursos, per se escassos.
Assenta na premissa que, por cada duas cabeças de gado que cada vezeiro possui fica obrigado a prestar um dia de vigília na montanha, de acordo com uma Roda de Serviço pré-estabelecida, o que faz da vezeira uma prática com características singulares que a distinguem de outras com o mesmo propósito.
Fazem parte dos órgãos sociais da Sociedade um Juiz, um Procurador, um Secretário, um Tesoureiro e três Louvados (elementos que avaliam situações que possam levar a indemnizações por parte da Vezeira aos seus associados).
Atualmente, a Vezeira conta com 26 vezeiros, todos residentes em Vilar da Veiga com exceção de um que se encontra emigrado. É constituída por 25 homens e uma mulher como cabeça de casal.
Dada a sua raiz comunitária e por ser uma tradição muito importante na memória coletiva desta comunidade, presentemente a atividade tem um carácter mais amplo e atravessa várias gerações.
A Vezeira de Vilar da Veiga realiza-se em terrenos de utilização comunitária (baldios) na serra do Gerês que se encontram sob a responsabilidade do Parque Nacional da PenedaGerês e em currais que são propriedade da Sociedade de Socorro Pecuário da Freguesia de Vilar da Veiga.
Esta prática decorre entre os meses de abril e setembro e é marcada por quatro momentos importantes: o Dia do Chamado (reunião inicial dos associados para estabelecer a Roda de Serviço); o Dia de Covais (subida à serra para a limpeza de caminhos e reparação dos abrigos e currais); o Dia da Subida (subida do gado à serra do Gerês até ao primeiro curral, com passagem pelo centro da Vila do Gerês); e o Dia da descida da serra e Chamado Final.
Atualmente, os dias especiais, como o de Covais e o da Subida da Vezeira, são valorizados e promovidos pela Câmara Municipal de Terras de Bouro e pela Associação Lírio do Gerês como um evento anual de grande relevância para vila do Gerês. Como tal, associado a esta prática realiza-se um programa cultural e turístico que inclui, para além do desfile das juntas de bois pela vila do Gerês, cortejos etnográficos, percursos guiados pela montanha para visita aos currais e abrigos da Vezeira, prova gastronómica, chegas de bois, concertos e cantares ao desafio.